Foto: Roberval Martins / CSSF |
O
presidente do Fórum das ONG/Aids do Estado de São Paulo (FOAESP), Rodrigo
Pinheiro, defendeu o licenciamento compulsório do sofosbuvir, medicamento para tratamento
da hepatite C. A defesa aconteceu durante audiência pública que tratou da
questão das hepatites virais no Brasil, na Câmara dos Deputados dia 19 de
setembro.
Iniciativa
da deputada Conceição Sampaio (PP-AM), a audiência foi promovida pela Comissão
de Seguridade Social e Família e pela Comissão de Integração Nacional,
Desenvolvimento Regional e da Amazônia. Apresentaram seus pontos de vista o
infectologista Sidney Chalub e a Dra. Adele Benzaken, diretora do Departamento
de IST, Aids e Hepatites Virais (DIAHV) do Ministério da Saúde.
Antes, o
deputado Marcos Reategui (PSD-AP), presidente da Frente Parlamentar de combate
às Hepatites Virais do Congresso Nacional, salientou os avanços obtidos no
enfrentamento às hepatites, “mas agora precisamos avançar mais”, afirmou.
Em sua
apresentação, a diretora do DIAHV fez um pequeno retrospecto do avanço do
combate às hepatites pelo Ministério, justificou o aumento dos casos de
hepatite C a partir de 2014, quando “o SUS passa a oferecer um tratamento sem
tanto efeito colateral, provocando uma maior notificação dos casos do vírus C”.
Segundo a
Dra. Adele, a hepatite C é a responsável por quase 80% das mortes por hepatites
virais no Brasil. Na região norte do Brasil, com 32 serviços saúde
especializados que atendem hepatite C, foram 10.448 casos notificados na última
década, período em que foram notificados mais de 300 mil casos Brasil.
Cálculos e estimativas – Ainda segundo a responsável
DIAHV, um primeiro estudo, em 2013, estimava a prevalência em 2 a 3 milhões de
pessoas com hepatite C no país. Em 2016, um modelo matemático baixou essa
prevalência para 1,5 milhões de pessoas infectadas pelo vírus C.
“Hoje
temos um outro modelo, que estaremos lançando no nosso Congresso (11º Congresso
de HIV/Aids e 4º Congresso de Hepatites Virais) na próxima semana, pelo qual demonstra
que temos hoje no Brasil cerca de 650 mil casos de hepatite C. Destes, 350 mil
já estão notificados”, afirmou a diretora do DIAHV.
Para a
Dra. Adele, sustentabilidade financeira é muito importante. “Vocês sabem que
nós, do Departamento, trabalhamos apenas com fundos nacionais. Não existem
outras instituições financiando as ações do Ministério da Saúde.”
Tratamento – Neste ano houve um atraso na
negociação com a indústria farmacêutica, mas “estamos aguardando mais 25 mil
tratamentos”, afirmou. Mas o preço ainda é um impeditivo: “mais de US$ 6 mil
por cada pessoa tratada e sabemos que há países com uma indústria farmacêutica
que produz o medicamento e o vende a US$ 300 o tratamento.”
Pelo licenciamento
compulsório – Assim que a deputada Conceição Sampaio abriu para perguntas, o
presidente do FOAESP questionou sobre a possibilidade de o Brasil decretar o
licenciamento compulsório do sofosbuvir para o tratamento da hepatite C, para garantir a ampliação do
acesso, pois em sua apresentação, a Dra. Adele levantou a questão do
custo do medicamento.
Segundo ele,
a diretora do DIAHV respondeu que o ministro prefere fazer negociação com o
laboratório, que isso está acima do Departamento, pois é de competência do
ministro e do presidente da República. “Ela afirmou que o Ministério quer
adotar o exemplo de negociação, como as que houveram na Austrália e em Portugal.
O
deputado Marcos Reategui (PSD-AP), presidente da Frente Parlamentar de combate
às hepatites virais, disse que o licenciamento compulsório pode ser um
complicador e o Brasil vir a sofrer retaliação da indústria farmacêutica na
produção de medicamentos no País.
“Eu
rebati dizendo que o Brasil está completando dez anos muito bem sucedidos do licenciamento
compulsório do efavirenz. E citei o caso da Malásia, que pressionou e a
indústria concedeu o licenciamento voluntário. A Dra. Adele concordou com a
comparação mas disse que isso compete ao ministro e ao presidente.
Pinheiro
pontuou que a sociedade civil cobrará uma posição do Ministério da Saúde e da
frente parlamentar.
Conversa informal – “Ao final da audiência, o
representante da Gilead, Roni Donan, veio se apresentar e pontuou as questões
sobre essa negociação. Ele disse que o Brasil estava comprando apenas 12 mil tratamentos
e que por isso não dava pra abaixar ainda mais o preço.” Segundo o
representante, a Gilead está negociando uma Parceria para o Desenvolvimento
Produtivo (PDP) com o Laboratório Farmacêutico de Pernambuco (Lafepe) para fabricação
do sofosbuvir no Brasil e que o País tem que escolher se quer um preço menor ou
a PDP (que implica na transferência de tecnologia).
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